segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Portugal no Coração

É esta a senha para entrarmos na casa uns dos outros, cantarolada obviamente. É também este o pensamento que me ocupa a cabeça todos os dias. É bem verdade que quando nos tornamos emigrantes levamos mesmo Portugal no coração e temos saudades de tudo - a aquisição de colunas para apresentarmos Diapasão, Tony Carreira e Dino Meira à comunidade de Getafe já está a ser estudada. Felizmente eu e a Bárbara não somos os únicos portugueses na UC3M. Connosco estão mais cinco emigrantes, a nossa pequena comunidade de emigrantes. Três são da minha turma na FCSH, os outros dois são da Católica e estudam Economia.

Portanto, da esquerda para a direita: a Inês (a minha Wikipedia pessoal e fonte de todo o meu saber), a Lucy (que descende de famílias judias e eu acho um piadão não sei porquê), a Mejede (aka Maria João Dinis, mas levo um açoite de cada vez que a chamo assim), o Pedro (fonte de sabedoria inesgotável e um porreiraço de primeira, faz-nos rir imenso), a Vânia (namorada do Pedro e uma constante boa-disposição, mesmo quando teimamos com ela que os foguetes vêm mesmo do chão) e a Bárbara (a minha companhia 24/7 cá de casa, aulas e onde quer que vamos).

Se há duas semanas me dissessem que nos íamos dar todos tão bem como damos agora não acreditava. Agora somos inseparáveis. É bom, é muito bom ter aqui pessoas na mesma situação que eu, que ajudam a suportar e a melhorar toda a experiência que é estar de Erasmus. São pessoas de quem gosto genuinamente e me têm dado fartotes de riso, belos momentos de companhia, excelentes conversas, enfim, memórias e amigos para uma vida (ou pelo menos assim quero acreditar).

Sim Inês, tens razão, já devia mesmo ter feito um post lamechas de homenagem. Vocês merecem, há muito tempo.

Café solo

Hoje entrei num café para beber um cafézito e quando disse que queria "un café solo" - senão metem-lhe leite - fizeram cara de "Eh lá, temos homem!".
Depois perguntaram-me de que zona da América era. Eu respondi delicadamente que era de Portugal e eles fizeram uma festa porque lá era uma hora a menos.

Músicas Fílmicas

E Cultura Audiovisual Contemporânea. Nome pomposo, que podiam ser duas cadeiras, mas não, é só uma. E o pobre do António Silva, que nem ingénuo português, foi atraído para a parte que diz "Músicas Fílmicas". Bem, também vamos falar disso...mas também vamos falar de artes performativas e de VJ-ing! "Que raro!", pensais vós. Sim, talvez, mas estamos em Espanha. 500km da FCSH, mas todo um mundo novo.

O nosso professor chama-se Fernando Salis e é...brasileiro! Notou-se assim que ele disse "Hola". Tal como ele fez questão de dizer "un lusohablante nota-se a la distancia". Ou então "en el samba, hay una turma de quatrocentos personas tocando", ou ainda "la expressión propriamente dicha". Vai ser giro, porque acho que vou finalmente perceber algo a 100% numa aula (o que não é complicado quando temos um professor que fala pior do que nós - o Pissarra não conta). Tudo muito giro, muito tu-cá, tu-lá e extremamente dinâmico. Quando digo extremamente é mesmo EXTREMAMENTE. A aula teve direito a uma dissertação sobre Nietzsche e a sua visão sobre o apolíneo e o dionisíaco, à qual se seguiu uma sessão musical de cerca de 20 minutos. Segundo o professor faltou uma "mesa de mescla", mas todas aquelas "mesclagens" que ele fez de improviso e na hora saiu incrivelmente bem. Começou em Wagner, passámos por gravações de coros e pássaros, Ella Fitzgerald e Louis Armstrong, jazz, fritaria electrónica, funk, samba e techno. Ah, durante esta sessão estivemos de pé. E depois ele pediu-nos para dançarmos, para nos mexermos, movermos, andar pela sala, sentir o Dionísio que há em nós! A isto seguiu-se uma também improvisada sessão de VJ-ing, com loops do filme "Persona", do Ingmar Bergman. Aquela aula foi o êxtase total. Se me dissessem que uma aula ia ser assim eu não acreditava. O homem tem um ego do tamanho do mundo - até passou uma reportagem sobre ele -, mas ultrapassando isso é um porreiro e um frito do tamanho do mundo. Estas aulas vão ser a moca. Até porque vamos ter que fazer a nossa própria curta, para depois passarmos numa instalação do homem!!!!

Os almoços aqui são uma coisa por demais. DOIS PRATOS? E bons!!! A FCSH é miserável, tenho cada vez mais pena dos que não sabem o que se passa do outro lado da fronteira.


Chegar ali a Ciudad de Rodrigo já é outro mundo (uma hora a mais e tudo), mas Madrid... Até tenho vergonha de dizer que "estive num botellón quando devia estar na exposição sobre os maiores pintores espanhóis" (obrigado senhor professor de rádio por me dar uma consciência...ou alertar para a existência de uma).

Faz falta uma Bertrand, mas a Casa del Libro também tem livros da Penguin a 3,5€. "Dracula", do Bram Stoker faz-me torrar pestanas por estes dias e o novíssimo dos Bloodbath, "Fathomless Mastery" ensurdece-me mais um pouco.

Esclarecimento: Este é o segundo post em menos de 48 horas. Maravilha possível graças à tecnologia alucinante que é o Uí-Fi, lido assim, que nem nome de caniche mimado. Internet em casa é outro conforto.

Botellón

Se eu vos disser que há em espanha um vinho rosé que custa 1.5€ e tem 14 graus de volume vocês acreditam? Pois, eu também não acreditava até o ter visto. Foi a melhor solução de sempre para o botellón de sexta-feira passada. E para quem não sabe, o botellón consiste em ir para um parque e beber a noite toda. É uma coisa muito à frente, principalmente quando estamos num parque em que a polícia não pode entrar desde um acordo obtido entre a Complutense e a polícia no tempo do franquismo. Vale a pena para conhecer pessoas, tipo o Pedro (um madrilenho que torce pelo Barça), o Rafael, o Rodolfo e a Bruna do Brasil, encontrar portugueses que estão cá por duas semanas a estudar petróleo e um espanhol que estuda Filosofia e que concorda comigo quando digo que "filosofia é bom para filosofar, mas não para estudar".

O bom do vinho é que não deu ressaca alguma, quero ver se compro mais. Ah, e também me torna fluentíssimo em espanhol (ou algo que às duas manhã e um litro depois soa a espanhol).

O fim-de-semana passou-se em casa, esteve mau tempo e o FITEC (Festival Internacional de Teatro E Cinema) acabou por ser arruinado. A Sara e a Carla visitaram-nos e continuam desesperadas e sem casa...Para já continuam com uma família de venezuelanos e vinte e três famílias de baratas.

A faculdade cada vez mais me parece admirável. Temos um estúdio de TV e dois estúdios de rádio. A professora assistente de TV Informativa diz que o estúdio (que tem dois platôs, quatro câmaras e mil holofotes) "é menos mau, podia ser melhor... Mas é suficiente!". Se a pobre coitada fosse á FCSH dava-lhe o badagaio, tal como a mim me ia dando quando entrei naqueles estúdios todos. O professor de rádio é um brincalhão do caraças, está sempre a rir-se e a fazer rir...mas eu continuo sem perceber porquê. Por exemplo, quando saí do estúdio de rádio - onde através do micro me apresentei - disse algo e todas as trinta pessoas presentes se riram. Acho que fui promovido a bobo da corte, mas continuo sem saber.

Hoje de manhã já tive Periodismo y Cambios Sociales. Isto é Teoria da Notícia all over again, mas com um LHC falante em espanhol...Aliás, trinta, porque toda a gente fala e opina (embora nunca tenham ouvido falar de Kant, nem saibam que a prensa apareceu na Alemanha com Guttenberg). Pelo menos a isto passa-se com um exame mais um trabalho de grupo.

O "Corazón" continua a fazer as minhas delícias e a matar as minhas saudades da Fátima Lopes, da Maya e de todo aquele pessoal da "Tertúlia Cor-de-Rosa". Os "Simpsons" e o "Padre Made in USA" dobrados em espanhol é que são a maior estupidez de sempre. Tenho pena de estes espanhóis que nunca ouviram uma voz original. Como será o Bugs Bunny aqui? "Hmmm, qué pasa doctor?"

Agora estou é ansioso por voltar a entrar naqueles estúdios "menos maus". Estes espanhóis são mesmo estranhos...

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Espanhol e LHC

Com certeza já ouviram falar do LHC, aquele acelerador de partículas, enterrado a não sei quantas centenas de metros debaixo do chão na Suíça, que se estende por 27 km e tem como objectivo fazer colidir minúsculas partículas para a equipa de 50 cientistas deslindar como se formou o universo. Pois LHC e aulas em espanhol trabalham à mesma velocidade. Nunca pensei que fosse possível debitar tantas palavras em tão pouco tempo! De certeza que a pessoa com mais palavras ditas por minuto que aparece no Livro dos Records do Guiness é espanhola. Possivelmente até pode ser o senhor professor André Verdú Schulmann, docente da cadeira Movimientos Artísticos Contemporaneos (em que falaremos de pintura, escultura e arquitectura).
Em suma, foram 64 minutos dados à velocidade do LHC, em que as palavras colidiam umas com as outras criando um buraco negro à volta da sua boca que absorvia toda e qualquer possibilidade de eu entender a totalidade do que o senhor dizia. E quando se estabelecia contacto com outras pessoas, eram dois LHC a funcionar ao mesmo tempo. É terrificamente assustador! Mas tem piada ao mesmo tempo, porque para mim ouvir falar espanhol só me faz lembrar do fantástico e célebre canal 18, em que todos os filmes eram dobrados em espanhol. Toda a gente aqui em Espanha tem uma carreira garantida na dobragem de filmes porno. Ouvir os espanhóis falar faz-me sentir como se estivesse num filme porno.

Outra coisa que me faz comichão é a TV espanhola. Neste momento estou a morrer de saudades da TVI. A sério! A TVE (que supostamente é algo sério) passa no noticiário resumos do Mira Quièn Baila (correspondente ao Dança Comigo daqui) e vão atrás das namoradas dos toureiros (os Tony e Mikael Carreira da zona) para os aeroportos. É absurdo. E a quantidade de programas tipo Quando o Telefone Toca é astronómica, há um em todos os canais! E sim, as mamas de plástico nestas apresentadoras é típica em todo o mundo. E o canal 5 é exclusivamente SÓ para reality-shows: o Big Brother vai na 10ª edição e andam a tentar casar um granjero (gente que tem quintas, é parola e serrana, mas bebem vinho e fazem karaté). Felizmente temos um programa chamado Corazón, que é uma mistura de Tardes da Júlia com a Tertúlia Cor-de-Rosa.

Entretanto temos mais um inquilino em casa. Chama-se Jan e é da Polónia. Vai viver com o Mariusz no quarto, portanto "tá-se bem", até fica mais barato e tudo, eles que se amanhem.

domingo, 21 de setembro de 2008

Porcos voadores em Espanha

Primeiro serão lá em casa, com cerveja do Dia (litrosas a 64 cêntimos, boazinhas), portugueses, uma estónia e dois polacos. Estava-se bem em casa, porque estávamos todos partidos da gincana por Madrid (isto é bem bonito, mas cansa) e porque estava a trovejar (e segundo a Vânia era mesmo trovoada e não foguetes, porque os foguetes não saem do chão).
Entretanto descobri o anúncio da cerveja Mixta. É genial, viciante e com a melhor frase de sempre... TUDO LO QUE VES ÈS UN CERDO VOLANDO!

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Primeiros dias...

O caos. O trânsito madrileno é O caos. Eu no carro dos meus pais a parar no vermelho e a ver todos os carros atrás de nós a seguirem em frente. CAOS.

Getafe: é um parque de estacionamento lotado, com espaço para lombas na estrada e habitaçoes verticais.
A faculdade é gigante e um espanto. Nao sei como é que as pessoas que estudam na FCSH ainda lá estao, devem andar iludidas e continuam a pensar que aquela é mesmo a melhor faculdade de Portugal... Yeah, right. Depois de um evento de boas-vindas com comida e bebida à borla, começo a pensar que tenho pena dos que fazem erasmus em Lisboa. Coitados, será que lhes dao tofu e seitan?
A casa é...interessante e confortável. Abundam os objectos kitsch, primorosamente pendurados em todas as paredes dos quartos e sala. A coisa menos kitsch está na casa de banho e é uma toalha azul escura. Menos mal. A mim saiu-me o quarto mais pequeno na rifa, pois todos queríamos o maior. Esse calhou ao Mariusz e a Bárbara ficou com o quarto médio. Acho que estamos todos bem instalados. A cozinha está super bem equipada, mas é incomportável com todos nós lá dentro. Festas impossíveis. A sala tem ar condicionado, o que é óptimo, porque estao quarenta graus em Madrid. Viva a nossa varanda que é gigantesca.
No nosso prédio vive uma senhora de idade actualmente desconhecida...Aproximadamente serao 173 anos. É mesmo feia, assustadora e tem olhos esbugalhados. Tive muitos pesadelos em que a senhora me perseguia, por isso é que hoje acordei com uma hora de atraso.
O pior aqui em Espanha é claramente a cerveja, o que me levou a gastar 2.80€ em Carslberg. Tenho que voltar ao vinho ou às bebidas brancas ou entao as minhas noites vao ser aborrecidas.

Nao tenho net em casa, vim a um cyber-café gerido por um turco com uma t-shirt do Brasil. Vou ver se saio daqui depressa antes que ele active a bomba que eu tenho a certeza que vi a piscar debaixo da mesa dele. Multi-kulti o cara***.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Não tarda estou a ir embora...

E estou tão desesperado que gosto genuinamente da Sister Christian, dos grandes Night Ranger.

Sister Christian
Oh, the time has come
And you know that you're the only one
To say, okay
Where you going
What you looking for
You know those boys
Don't want to play no more with you
It's true

You're motoring
What's your price for flight
In finding mister right
You'll be alright tonight

Babe, you know
You're growing up so fast
And mama's worrying
That you won't last
To say, let's play
Sister Christian
There's so much in life
Don't you give it up
Before your time is due
It's true
It's true, yeah

Motoring
What's your price for flight
You've got him in your sight
And driving thru the night
Motoring
What's your price for flight
In finding mister right
You'll be alright tonight

Motoring
What's your price for flight
In finding mister right
You'll be alright tonight
Motoring
What's your price for flight
In finding mister right
You'll be alright tonight

Sister Christian
Oh, the time has come
And you know that you're the only one
To say, okay
But you're motoring
Yeaaaaah, motoring

É oficialmente a minha música de Erasmus.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Terceiro elemento

António, Bárbara e Mariusz. É este o trio maravilha que vai habitar durante pelo menos cinco meses num apartamento de Getafe.

O Mariusz é da Polónia, estuda Relações Internacionais numa cidade completamente impronunciável em português e espera dar-se bem connosco. Pois nós também, o calão em português é divertido e espero que o polaco também seja.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

En Alquiler - a luz ao fundo do túnel!

Ja lá vão quase cinco meses desde que tive a certeza que ia mesmo de Erasmus. Já lá vão quase cinco meses desde que as palavras En Alquiler me assombram em sonhos feios, em becos escuros e sem saída, ao almoço, ao lanche e ao jantar. Mas hoje é o dia em que finalmente posso descansar porque já tenho uma casa! Quer dizer, sei que tenho porque a Bárbara disse que já tem o contrato para nós assinarmos. Agora já só falta ir para Madrid, ver a casa, pagar o primeiro mês e uma fiança, esperar que a casa não desabe até lá e arranjar uma terceira pessoa para viver connosco - porque senão ficava mais barato ir viver no Ritz de Madrid e lembrar-me que pêssego em espanhol se diz "melocotón". Coisa pouca.

Cinco meses em Espanha, com uma cerveja intragável e paella em quantidades industriais. Vai ser emocionante. Ai cariño!